segunda-feira, 6 de novembro de 2017

A comunidade do Mirim está em festa

Devotos se reuniram na noite de sábado (4) na casa do casal Enio e Izeni de Oliveira, para a abertura da Festa do Divino Espírito Santo e Sant'Ana, no Mirim. Em procissão com a Bandeira do Divino, Corte Imperial, Cantoria do Divino e a Imagem de Sant'Ana, os devotos seguiram até a Igreja Sant'Ana, onde foi celebrada Missa, pelo Padre Bantu Mendonça K. Sayla. 
O tema da festa este ano é "Colcha de Retalhos". O texto abaixo foi lido pela comentarista Maria de Loudes Machado, no inicio da missa.


COLCHA DE RETALHOS

Todos os anos, na abertura de sua festa religiosa, a Comunidade do Mirim faz memória e valoriza algum aspecto de sua Cultura de Base Açoriana. Este ano, queremos relembrar a Colcha de Retalhos.

Num trecho do diálogo de Anna, a bordadeira mestre, do filme Colcha de Retalhos, ela diz assim: “Para fazer uma colcha de retalhos é preciso escolher as combinações com cuidado. Se escolher bem, realçará a obra... Se escolher mal, as cores vão parecer mortas e esconder a beleza. Não há regras a seguir... Tem que seguir o instinto a ser corajosa.”

No dicionário, o significado de Colcha de retalhos é: substantivo. Coberta de cama, trabalhada ou não, também usada para enfeitar janelas, sacadas e paredes. Colcha de retalhos, a que é feita pela união de pequenas partes de diferentes tecidos. Em sentido figurado, diz-se de algo composto de partes dispersas: suas opiniões eram verdadeiras colchas de retalhos.

No texto, Reflexão: Colcha de Retalhos de Inês Broshuis Lê-se assim:
Senhor, outro dia fiz uma colcha de retalhos. Todos os restinhos de pano que guardei iam servir. Ao pegar cada pedaço recordava-me de pessoas, acontecimentos... Como se cada um tivesse uma história para contar.
Fui costurar. Cores que, à primeira vista, não combinavam; padrões e desenhos totalmente diferentes! Tudo se juntou. A colcha ficou pronta. E como ficou linda!

E fico pensando: Tu criaste todos os seres diferentes. Ninguém é igual ao outro, de monotonia. E não são diferentes só fisicamente. Todos pensam diferentes, sentem diferentes, agem diferentes. Um completa o outro. Um apoia o outro.
Que maravilha é uma “colcha” de tantos seres diferentes, formando a humanidade” [...]  Todos juntos na procura da união e da fraternidade; cada um do seu modo forma a “Grande Colcha” de unidade na pluriformidade.

Assim são as Colcha de Retalhos: pedaços de Tecidos, de várias cores, desenhos, texturas. Além de pedaços de roupas velhas ainda aproveitáveis, retalhos de um vestido feito para o primeiro dia de escola, de uma saia, cuja altura foi arrumada, de uma calça ou de uma camisa especial que eram guardados para fazer colchas de retalhos cheias de lembranças pessoais. Esses pedaços, juntos, fazem a harmonia, a beleza e a utilidade da colcha. Lembram histórias diversas, vivenciadas, sentidas, experimentadas: de roupas, de pessoas e de fatos que, juntos, formam a história familiar ou até da própria região.
Cada um de nós tem a sua história e, unindo com a de outras pessoas, formam a história da comunidade.

Nesta breve lembrança, queremos trazer presente todas as vidas e todo o trabalho realizado por nossos antepassados que, de pedaço em pedaço, confeccionaram e construíram as colchas da vida; trazendo até nós o seu legado de preservação e valorização da cultura de um povo, para que o mesmo possa ficar registrado na memória afetiva. E este o nosso papel: preservar e valorizar nossa cultura, não estragando, não menosprezando, não tendo vergonha e nem escondendo ou jogando fora aqueles objetos e fatos que tem um valor histórico e que representam a vida – abençoada por Deus – de nossos antepassados e da própria comunidade.
Concluímos com um trecho do texto de Cora Coralina: Sou feita de retalhos:

“E penso que é assim mesmo que a vida se faz: de pedaços de outras gentes que vão se tornando parte da gente também. E a melhor parte é que nunca estaremos prontos, finalizados... haverá sempre um retalho novo para adicionar [...] Que eu também possa deixar pedacinhos de mim pelos caminhos e que eles possam ser parte de suas histórias. E, que assim, de retalho em retalho, possamos nos tornar um imenso bordado...” da vida.





















sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Mirim realiza a 161ª Festa do Divino

Devoção secular marca o início de uma das mais tradicionais festa religiosa do município de Imbituba, a Festa do Divino Espírito Santo e Sant’Ana, em Mirim.

A abertura da 161ª Festa do Divino Espírito Santo e Sant’Ana, de Mirim, será neste sábado (4), às 20h30min, com a tradicional procissão da Bandeira do Divino e a Corte Imperial, que sairá da residência do casal Enio e Izene de Oliveira, e da Imagen de Sant'Ana, que saíra da residência do casal Moacir e Eva Corrêa Pacheco, em seguida cortejo com destino à Igreja Sant’Ana de Mirim, acompanhada da Cantoria do Divino Espírito Santo, que retornou do peditório da Bandeira, nas residências do distrito.

Logo após, Santa Missa de abertura da Festa, na Noite da Cultura de Base Açoriana, que será celebrada pelo Padre Bantu Mendonça K. Sayla, da Paróquia de Cabeçudas, Laguna, SC. A animação da missa estará a cargo do Coral Unicanto, de Imbituba. Os paraninfos da missa/novena serão os Devotos do Divino Espírito Santo e a Rede Feminina de Combate ao Câncer.

De 04 a 12 de novembro, serão realizadas todas as noites, missas na Igreja Sant'Ana, que contarão com a participação de sacerdotes convidados e de grupos de diversas paróquias.


A História da Festa do Divino Espírito Santo

Embora seja marcada pelo viés religioso, com procissões, novenas e missas, a celebração do Divino Espírito Santo revela um forte caráter folclórico, com suas tradições e ampla participação popular.

A Festa do Divino Espírito Santo remonta à Antiguidade, quando os israelitas já cultuavam a divindade durante o dia de Pentecostes, que acontecia cinquenta dias após a Páscoa, quando o Espírito Santo desceu do céu sobre a Virgem Maria e os Apóstolos de Cristo, sob forma de línguas como fogo.  Está ligada à época do fim das colheitas e à distribuição de alimentos.

 A adoração do Divino estendeu-se até a Europa, durante a Idade Média, até que na Alemanha encontrou boa recepção, transformando-se em festa. O objetivo era arrecadar fundos para amparar os necessitados da época.

Em Portugal a festa tem início no começo do século XIV, na Vila de Alenquer, próximo a cidade de Lisboa, nas quais a terceira pessoa da Santíssima Trindade era festejada com banquetes coletivos, com distribuição de comida e esmola.  A tradição local fixou o ano de 1321 o inicio dos festejos por iniciativa da Rainha Santa Izabel, precursora do culto ao Espírito Santo.

A rainha teria prometido ao Divino Espírito Santo  peregrinar o mundo com uma cópia da coroa e uma pomba no alto da coroa, que é o símbolo do Divino Espírito Santo, arrecadando donativos em benefício da população pobre, caso o esposo, o rei D. Dinis, fizesse as pazes com seu filho legítimo, D. Afonso, herdeiro do trono.

Ela não se conformava com o confronto entre pai e filho legitimo, pois era desejo do rei que a coroa portuguesa passasse, após sua morte, para seu filho bastardo, Afonso Sanches.  Diante do conflito, a rainha Isabel passou a suplicar ao Divino Espírito Santo pela paz entre seu esposo e seu filho.  A interferência da rainha evitou um conflito armado, denominado a Peleja de Alvalade, que esteve prestes a travar-se entre as tropas de D. Dinis e as de D. Afonso IV, em 1323.

A luta entre pai e filho foi impedida pela intervenção da rainha, que montada na sua pequena mula, surge diante de lanças, escudos e setas, até parar em frente ao rei e ao filho, que exigiu que o filho honrasse o juramento que fizera ao pai, e exigiu ao rei que fosse pai e perdoasse ao filho. E desafiou os exércitos a avançarem naquele momento, com ela no meio. Todos se sentiam profundamente emocionados e ninguém se atreveu a avançar, estabelecendo finalmente um acordo para a paz duradoura.
E o povo, que já a admirava pelo sacrifício pessoal e pelas obras de misericórdia, passou a chamar-lhe a partir daquele dia de Rainha da Paz.

No Brasil, a Festa do Divino foi trazida pelos portugueses, no século XVI e  em Santa Catarina, acredita-se que tenha sido introduzida em meados do século XVII, com a vinda dos primeiros imigrante açorianos. 

Sant’Ana e São Joaquim

Segundo a tradição dos antepassados, Joaquim nasceu na Galileia e vivia do comércio de lãs e de carneiros.  Chegado o tempo de contrair matrimônio foi procurar uma esposa digna e virtuosa. Desposou Ana e após tantas amarguras e sofrimento, pois ambos eram estéreis, o Anjo lhes anunciou que a Virgem Mãe do Salvador havia de nascer deles.

Sant’Ana nasceu em Belém e  teve a honra de ser a mulher escolhida para Mãe de Nossa Senhora, a mãe de Jesus. Morreu aos 79 anos, foi sepultada em Jerusalém, junto de seu esposo, São Joaquim.

A festa litúrgica de Sant’Ana não é tão antiga, pois remonta ao ano de 1584, quando no dia 1º de maio, Gregório XIII, por inspiração do Espírito, ordenou que em toda a Igreja se celebrasse a Festa de Sant’Ana.

O Papa Gregório XV estando à beira da morte por doença incurável disse que se Santa Ana o curasse autorizaria celebrar a cada ano a Festa de 26 de julho como obrigatória em todo o mundo. O Papa restabeleceu-se e cumpriu a promessa. Toda a Europa foi enriquecida de majestosos santuários e altares de Santa Ana.

A devoção a Sant’Ana, no Brasil, obedece a uma tradição vinda de Portugal. A Igreja de Santa Ana é uma tradição de quase todas as velhas cidades brasileira.