Devotos se reuniram na noite de sábado (4) na casa do casal Enio e Izeni de Oliveira, para a abertura da Festa do Divino Espírito Santo e Sant'Ana, no Mirim. Em procissão com a Bandeira do Divino, Corte Imperial, Cantoria do Divino e a Imagem de Sant'Ana, os devotos seguiram até a Igreja Sant'Ana, onde foi celebrada Missa, pelo Padre Bantu Mendonça K. Sayla.
O tema da festa este ano é "Colcha de Retalhos". O texto abaixo foi lido pela comentarista Maria de Loudes Machado, no inicio da missa.
COLCHA DE RETALHOS
Todos os anos, na abertura de sua festa religiosa, a
Comunidade do Mirim faz memória e valoriza algum aspecto de sua Cultura de Base
Açoriana. Este ano, queremos relembrar a Colcha de Retalhos.
Num trecho do diálogo de Anna, a bordadeira mestre, do filme
Colcha de Retalhos, ela diz assim: “Para fazer uma colcha de retalhos é preciso
escolher as combinações com cuidado. Se escolher bem, realçará a obra... Se
escolher mal, as cores vão parecer mortas e esconder a beleza. Não há regras a
seguir... Tem que seguir o instinto a ser corajosa.”
No dicionário, o significado de Colcha de retalhos é:
substantivo. Coberta de cama, trabalhada ou não, também usada para enfeitar
janelas, sacadas e paredes. Colcha de retalhos, a que é feita pela união de pequenas
partes de diferentes tecidos. Em sentido figurado, diz-se de algo composto de
partes dispersas: suas opiniões eram verdadeiras colchas de retalhos.
No texto, Reflexão: Colcha de Retalhos de Inês Broshuis
Lê-se assim:
Senhor, outro dia fiz uma colcha de retalhos. Todos os
restinhos de pano que guardei iam servir. Ao pegar cada pedaço recordava-me de
pessoas, acontecimentos... Como se cada um tivesse uma história para contar.
Fui costurar. Cores que, à primeira vista, não combinavam;
padrões e desenhos totalmente diferentes! Tudo se juntou. A colcha ficou
pronta. E como ficou linda!
E fico pensando: Tu criaste todos os seres diferentes.
Ninguém é igual ao outro, de monotonia. E não são diferentes só fisicamente.
Todos pensam diferentes, sentem diferentes, agem diferentes. Um completa o
outro. Um apoia o outro.
Que maravilha é uma “colcha” de tantos seres diferentes,
formando a humanidade” [...] Todos juntos na procura da união e da fraternidade; cada um
do seu modo forma a “Grande Colcha” de unidade na pluriformidade.
Assim são as Colcha de Retalhos: pedaços de Tecidos, de
várias cores, desenhos, texturas. Além de pedaços de roupas velhas ainda
aproveitáveis, retalhos de um vestido feito para o primeiro dia de escola, de
uma saia, cuja altura foi arrumada, de uma calça ou de uma camisa especial que
eram guardados para fazer colchas de retalhos cheias de lembranças pessoais.
Esses pedaços, juntos, fazem a harmonia, a beleza e a utilidade da colcha.
Lembram histórias diversas, vivenciadas, sentidas, experimentadas: de roupas,
de pessoas e de fatos que, juntos, formam a história familiar ou até da própria
região.
Cada um de nós tem a sua história e, unindo com a de outras
pessoas, formam a história da comunidade.
Nesta breve lembrança, queremos trazer presente todas as
vidas e todo o trabalho realizado por nossos antepassados que, de pedaço em
pedaço, confeccionaram e construíram as colchas da vida; trazendo até nós o seu
legado de preservação e valorização da cultura de um povo, para que o mesmo
possa ficar registrado na memória afetiva. E este o nosso papel: preservar e
valorizar nossa cultura, não estragando, não menosprezando, não tendo vergonha
e nem escondendo ou jogando fora aqueles objetos e fatos que tem um valor
histórico e que representam a vida – abençoada por Deus – de nossos
antepassados e da própria comunidade.
Concluímos com um trecho do texto de Cora Coralina: Sou
feita de retalhos:
“E penso que é assim mesmo que a vida se faz: de pedaços de
outras gentes que vão se tornando parte da gente também. E a melhor parte é que
nunca estaremos prontos, finalizados... haverá sempre um retalho novo para
adicionar [...] Que eu também possa deixar pedacinhos de mim pelos caminhos e
que eles possam ser parte de suas histórias. E, que assim, de retalho em
retalho, possamos nos tornar um imenso bordado...” da vida.
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