sexta-feira, 8 de julho de 2011

AS EMENDAS – Sociedades de Pescadores

Levando-se em consideração a situação econômica e social no passado, a vida dos nossos antepassados não se rodeava das facilidades que se dispõe hoje em dia. O povo enfrentava sérias dificuldades e as famílias tinham que trabalhar bastante para conseguir o seu sustento. A agricultura familiar, até então, intitulada de “roça” e a pesca artesanal eram as principais fontes de sustento e subsistência. Não haviam empregos e tudo girava em torno do que era produzido pelas próprias famílias.
 
A alimentação do povo era quase que exclusivamente do peixe e siri da lagoa do Mirim e de carne seca (charque) que os comerciantes adquiriam do Rio Grande do Sul e mais adiante de charqueadas que foram instaladas em nosso estado, especialmente em Lauro Muller e Orleans. As pessoas passavam por grande dificuldade no sustento dos seus familiares. Nem todos tinham acesso a outros tipos de alimento que não fossem adquiridos através de sua labuta.

Formavam como que uma sociedade e faziam entre si troca de alimento e se uniam na pesca formando, que seria hoje, um grupo pesqueiro: AS EMENDAS. Grupos de Pescadores que se uniam para pescar em conjunto. Alguns pescadores dispunham de canoa, rede e tarrafa, pois nem todos tinham condições de adquirir seu material pesqueiro. Era uma organização que obedecia ao comando de um desses pescadores. Escolhiam quase sempre o mais velho, mais experiente. Era chamado de “CAPATAZ”.

A sociedade se organizava da seguinte maneira:
Marcavam o dia para a pesca. Na véspera iam embarcar as redes, isto é, colocá-las nas canoas umas ligadas às outras por meio de fios, operação essa chamada de “prefiar as redes”. No dia seguinte, pela manhã (madrugada), saiam sob o comando do capataz a procura de peixe.

Quando notavam um cardume, duas das canoas iam soltando as redes para fechar o lanço e as demais faziam o cerco e batiam na água com seus remos para que o peixe seguisse em direção ao círculo que estava sendo fechado. Com o peixe cercado pelas redes começavam a “tarrafar” dentro do lanço.

Terminado a pescaria do dia, retornavam para os ranchos das canoas, onde eram repartidos os peixes em quinhão de acordo com as redes e tarrafas de cada um. Nessa época não existia previdência social e as viúvas e órfãos pobres necessitavam de auxílio para a sua subsistência. Ao repartir o pescado deixavam um quinhão destinado a essas pessoas. Era uma prova de sentimento humanitário desses pescadores.

Algumas Emendas do Mirim separavam um quinhão para a Padroeira do lugar, chamado de quinhão da “Santa” (Sant’Ana). Esse quinhão era vendido e destinado para auxiliar na festa da Padroeira.

Essa organização “As Emendas”, verdadeiramente, merece um estudo sobre o papel que representavam e da função social que desempenhavam na vida comunitária do passado.

Em época de mau tempo, vento sul e chuva, a vida das pessoas tornava-se mais difícil, pois não podiam ir ao mar e eram forçados a recorrer à compra de charques nas vendas, o que acarretava sérios problemas à população pobre.

Cada Emenda era conhecida pelo Porto em que estava localizado o seu Rancho das Canoas chamado Porto da Emenda ou pelo nome do Capataz, conforme a relação abaixo:

 - Emenda do Morro ou do Isaac – Isaac Teixeira de Carvalho;
- Emenda do Campo ou do João Roberto – João Roberto de Carvalho, posteriormente do Chico Torquato – Francisco Torquato Duarte e de seu filho João Honorato de Carvalho;
 
- Emenda do Porto da Lage ou do Ramiro – Ramiro José Machado;
- Emenda do Roberto – Roberto Teonesto de Carvalho;
- Emenda do Mané Antônio – Manoel Antônio Fernandes;
- Emenda do Mané Francisco – Manoel Francisco de Carvalho.


Izaac Teixeira de Carvalho



João Roberto de Carvalho

Os que faziam parte das emendas não eram exclusivamente pescadores, eram pequenos agricultores que pescavam para ajudar no sustento da família. Alguns vendiam parte da pesca, nos dias em que a pescaria era abundante, servindo assim a população e conseguindo meios para adquirir outros artigos necessários tais como sal, querosene, etc.

As pessoas que não pescavam iam esperar a chegada das emendas para comprar peixe, e nos dias que a pesca era fraca, tornava-se difícil a compra, pois os pescadores levavam quase todo o peixe para casa. Nesse caso, conseguia comprar peixe, algum amigo que fez favor ao pescador.

Os peixes capturados eram geralmente tainha, borriquetes, sardinhas, acarás, corvinas, bagre. O preço do pescado era feito conforme a pescaria, pois quando a pescaria era abundante o preço baixava, porém, quando a pescaria era fraca o preço tornava-se muito alto. As vendas não eram efetuadas a peso, mas sim por unidade.

O modo de vida da população, especialmente a classe mais pobre, em especial os que habitavam a região do Mirim, muitos até vindo do interior, se limitava ao extrativismo e a pesca. Por isso, a condição econômica da região era bastante precária, limitando o poder aquisitivo das famílias.

Na sua condição plena de navegabilidade, a lagoa Mirim, praticamente distante da sua condição do passado, favorece a prática de esportes náuticos em grande escala, servindo de palco para grandes desportistas, constituindo-se também num manancial turístico de grande importância para o município. A Lagoa do mirim estende-se por uma área de 63,77m². Os rios que desembocam na lagoa são: Rio D’una e Mané-Chico.


 
Fotos atual da Lagoa do Mirim



 





Nenhum comentário:

Postar um comentário